Assim, no passado fim-de-semana, essa vontade mútua concretizou-se e os restos mortais do padre Júlio de Oliveira, deixaram o talhão do clero algarvio, no cemitério da Esperança, em Faro, onde se encontrava sepultado desde Junho de 1991 e seguiram para Cachopo, tendo sido tumulado no cemitério da aldeia. Para realizar dignamente esta homenagem, a Comissão Executiva da paróquia organizou um programa que teve início logo no dia 9, aquando da chegada dos restos mortais do sacerdote à comunidade. Com a igreja paroquial em profundas obras de recuperação, a pequena urna com as ossadas do padre Júlio de Oliveira seguiu para o salão dos bombeiros, onde foi realizada, ao fim da tarde, uma oração de vésperas, seguindo-se à noite a oração do rosário.
No dia 10, já sob a presidência do Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, após a oração de laudes, procedeu-se à inauguração de uma exposição sobre o saudoso sacerdote. Para além das fotografias, ilustrando diversos momentos do exercício do seu ministério sacerdotal, a mostra apresentava ainda aos visitantes alfaias litúrgicas, peças de vestuário e outros elementos utilizados na época, relacionados com o culto. Depois do almoço, teve lugar uma nova inauguração. Desta feita, a de um busto do homenageado, junto à igreja paroquial, na presença do presidente da Câmara Municipal de Tavira, Macário Correia, do presidente da Junta de Freguesia, Sidónio Barão, e de uma sobrinha do antigo pároco, para além de muitos paroquianos de Cachopo.
Na ocasião, o Bispo diocesano sublinhou duas características do padre Júlio de Oliveira que, na sua opinião, tornaram possível que o sacerdote tivesse vindo, recém-ordenado, com 24 anos, para aquela aldeia e lá tivesse permanecido durante mais de meio século. “Certamente era um padre com muita fé em Deus e um sacerdote que se identificou plenamente com o povo que foi chamado a servir”, salientou D. Manuel Quintas. “As minhas palavras são de gratidão ao padre Oliveira e ao mesmo tempo vejo nele um modelo para mim, como Bispo, para confiar em Deus e me identificar também plenamente com o povo algarvio que sou chamado a servir”, afirmou o Prelado, destacando a importância da unidade entre os paroquianos e os seus párocos. “Quando conseguirmos que haja esta comunhão entre os padres da diocese e o povo que são chamados a servir, quando crescer em nós a confiança em Deus e esta atitude de serviço aos outros, não haverá obstáculo que não consigamos ultrapassar”, afirmou.
Macário Correia aproveitou também a ocasião para ressalvar a sua presença como sinal de que “o município se associa a todos os actos que sejam sinais de um reconhecimento colectivo da vontade da população”. Após o descerramento do busto do padre Júlio de Oliveira, seguiu-se a celebração da Eucaristia, novamente no salão dos bombeiros, que foi pequeno para acolher, todos os que quiseram assistir àquele momento de acção de graças a Deus pelo dom do antigo pároco.
O Bispo do Algarve, na homilia, destacou precisamente este aspecto. “Ao louvarmos a Deus pelo dom que constituiu para a Igreja do Algarve e para a paróquia e freguesia de Cachopo a presença do padre Oliveira, agradecemos também o facto de ele ter sido sinal da presença e do amor de Deus no meio de vós”, afirmou D. Manuel Quintas, identificando o segredo da longa permanência do sacerdote naquela comunidade da serra algarvia. “Certamente o modo como ele viveu a fé, a sua vocação e consagração como sacerdote e o modo como se identificou com este povo, esta terra e como foi acolhido, foi o segredo de ele ter permanecido aqui durante tantos anos”, referiu, agradecendo à paróquia porque “este gesto ajuda, toda a diocese, a crescer no apreço e no amor pelos sacerdotes e por esta vocação na Igreja”. O cortejo fúnebre seguiu para o cemitério de Cachopo, onde após uma pequena oração na capela, se procedeu à colocação dos restos mortais do padre Júlio de Oliveira na sua sepultura definitiva. Actual pároco de Cachopo destaca o padre Oliveira como “modelo” O padre Francisco Boncompte, pároco de Cachopo, sublinhou a importância da iniciativa e destacou o facto de o padre Júlio de Oliveira constituir um “modelo” para as gerações vindouras. “Sempre que se trata de lembrar pessoas que deram a vida pelo Senhor é muito positivo”, salienta o sacerdote. “Há figuras que estão perto de nós e que podem servir de orientação e são modelos para as gerações de hoje, sobretudo para as mais jovens. As pessoas ainda se lembram do padre Oliveira e por isso é um modelo actual”, concluiu.
Dulce Delgado – sobrinha do padre Júlio de Oliveira “Estamos sensibilizados com a homenagem. O padre Júlio de Oliveira é uma figura que diz bastante à paróquia e a nós, familiares, também.Foi feita a vontade dele, que na altura na sua morte não foi possível cumprir por qualquer motivo. Agora estamos contentes por ele ter voltado para onde queria”.
Angelina Martinho, paroquiana de Cachopo “Acho bem esta iniciativa. O padre Júlio de Oliveira foi uma pessoa que viveu entre nós durante uma vida de 56 anos. É bom que se recorde pelo bem que fez, pela atenção que deu às pessoas, pela formação católica, por tudo…O senhor padre tinha vontade de ficar cá e a população também gostava que ficasse”.
Marília Domingos, paroquiana de Cachopo “Foi o padre Júlio de Oliveira que me baptizou e casou e que baptizou os meus filhos. Foi meu professor da telescola, de quem eu gostei bastante pois era muito exigente. Relacionava-se bem com a população de Cachopo. Embora não fosse uma pessoa de muita conversa, ajudava as pessoas quando necessitavam. Recordo um homem que fez muito pela terra, que nos ajudou e ensinou muito. Foi um bom testemunho”.
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